sábado, 10 de abril de 2010

Adeus a Porrão

Minha semana de trabalho começou no Domingo de Páscoa quando já viajava para Cruz das Almas onde segunda-feira, logo cedo, teria uma reunião entre a Biofábrica e a Embrapa. Na quinta-feira no fim da tarde, já me sentindo cansado, peguei Regina e fui dormir na Sagarana na tentativa de revigorar as forças pra enfrentar a sexta-feira. Quanto no retorno liguei o celular em Coaraci e o sinal de mensagens indicava entre outras, diversas ligações de Marco Lessa. Foi a primeira que retornei, e a noticia era que as coisas não estavam bem. Foi um dia difícil entre compromissos, reuniões e telefonemas pra acompanhar a agonia do que veria a ser seu último dia. Por volta das oito, sentado no senadinho Marco ligou. Aconteceu. Foi assim que seu genro me passou a noticia do fim da agonia do Velhinho, como Marco carinhosamente o tratava. Badalo para a grande maioria, pra mim e Lito meu compadre, “porrão”. Era assim que nos tratávamos. Quando queria pirraçar Regina chamava-a de “moqueca de osso”, mas o trato normal era de “porrona”, alusivo a nós três.
Se for aqui relatar “causos” e fatos desde a nossa adolescência no Colégio Afonso de Carvalho até os últimos dias, passaria horas e horas e certamente dias seriam poucos pra contemplar tudo.
Tivemos o privilégio, eu Regina nossos filhos e primos de Aracaju, de sermos os primeiros da terrinha a pisar em sua casa de campo que ele tratava, ora de “Cantinho do Dengo” ora de “Camp Davis”. Como disse Nazal, “na sua maravilhosa irresponsabilidade séria” nos recebeu parecendo que em vez das dez pessoas que ali estavam o “perparado” era pra mais de trinta. Depois da caranguejada, farta moqueca de robalo, doses “caubói” do “red” a insistência pra que eu colocasse um short e usufruísse um pouco ao cair da tarde do “parque aquático”. Como não fazer seus desejos? Ele o primeiro a cair num “ponta agulha” e por debaixo d’água atravessou toda a extensão da piscina e ao sair na outra extremidade forjando tirar o cabelo que não tinha a muito tempo da testa, esbravejou, “se fui pobre um dia eu não me lembro”.
O seu pulmão resistiu ao fôlego de mais ou menos uns dez metros, não resistiu à água que insistia em encher sua pleura, que lhe incomodou após as seções de quimioterapia, que o fez voltar a ser irreverente quando da primeira vez a drenou e me disse ao telefone ao lado de Maria Clara, “vou direto na pleura e lascar com essa fdp”.
Vá lá irmão, segue o seu caminho, dá um abraço na turma lá de cima, e são muitos. Mesmo lhe contrariando quando me disse pra largar essa luta que hora travo contra o mal que nos fizeram, me dizendo ser nossa região uma “excelente madrasta” e uma “péssima mãe”, continuo aqui cumprindo minha sina até o dia que vamos nos encontrar. O que tiver ao meu alcance farei pra que Maria Clara, sua “chaveirinho”, Luli, Paulinha e Alciatinho tenham forças para passar essa dor. Não esquecerei nunca de “Dona Chica do outeiro da cirica”, nem de “Dona Zefa do caminho da serra preta”, nem de “uala” que você se foi sem explicar a Regina o que era e ela vai me atazanar até meus últimos dias de vida dizendo ser uma travessura nossa. Por tudo isso mais uma vez lembro Nazal, “sua maravilhosa irresponsabilidade séria” vai perpetuar-se em nossos corações enquanto aqui estivermos. Beijo grande.
Henrique.

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